Fed comprou pela primeira vez $305 milhões em ETFs de Bonds

Mais uma semana inédita para as ações do Fed. No balanço publicado neste semana aparecem os primeiros 305 milhões de dólares de compras de ETFs de bonds corporativos, um fato inédito na história do Federal Reserve dos EUA.

Anunciada pela primeira vez em 23 de março, a chamada Facilidade de Crédito Corporativo do Mercado Secundário (Secondary Market Corporate Credit Facility) foi celebrada por investidores e formuladores de políticas econômicas por ter uma grande influência para acalmar os mercados temporariamente, muito antes de ser lançada oficialmente nesta terça-feira dia 12 de maio. No meu modo de ver a coisa, porém, continuamos indo para terrenos pantanosos, e por mais que a turma não queria ver, a bolha continua inflando e uma hora vai estourar forte. 

Sob este programa, o Fed planeja fazer compras definitivas de títulos corporativos e ETFs que investem nesta classe de ativos, incluindo potencialmente alguma dívida com grau de subinvestimento (junk bonds). O Japão também começou assim, na década de 19990, devagar e falando que ia ser temporário, e não parou mais até hoje. Detém nada menos do que 80% das ações naquele pais, via ETFs.

Vi uma comparação interessante, num artigo recente - o Japão é para os bancos centrais o que o antigo Bell Labs era para a indústria global de tecnologia: um centro de idéias que são adaptadas por outros. Voltando ao final dos anos 90, foi forçado a ser pioneiro em métodos não-ortodoxos para tentar estimular o crescimento e reiniciar a máquina de crédito da economia. Ao fazer isso, mostrou a outros bancos centrais que eles têm uma ampla gama de opções quando já cortaram as taxas de juros para zero e a economia continuou patinando.

"O BOJ está fazendo um grande favor a esses bancos centrais", disse Shigeto Nagai, chefe de pesquisa econômica japonesa da Oxford Economics em Tóquio e ex-chefe do departamento internacional do BOJ. “Uma grande diferença é que o BOJ criou muitas de suas medidas durante sua luta contra a deflação durante um período de muitos anos, enquanto o Fed, por exemplo, precisava de novas armas imediatamente. Eles não tinham muita escolha a não ser usar as ferramentas do BOJ". 

Voltando ao Fed, embora os dados do balanço semanal não divulguem quais ETFs o Fed comprou, o banco central informou que divulgará os nomes dos mutuários que participam do programa pelo menos uma vez por mês. Vamos aguardar.

A tentativa desesperada de injetar liquidez no mercado chega a níveis nunca antes imaginados, e hoje o Fed já tem no seu balanço patrimonial aproximadamente US$ 7 trilhões. E a tendência é que isso suba cada vez mais , já que a crise econômica não mostra sinais de que vai acalmar tão cedo.

Nesta sexta feira sairam também os números sobre as vendas de varejo do mês de abril, e não foram nada animadores:

* Retail Sales (tirando carros) -17.2% para o mês (maior queda mensal já registrada, e o pior: já é ajustada para a temporada)

* Venda de roupas e acessórios -78%

* Venda de móveis para casa e escritório -58%

Além disso, num Twitter nesta manhã liberado pelo periódico Global Times, saiu a notícia que o governo chinês ameaçou parar de comprar aviões da Boeing e disse que vai ativar a sua "unreliable entity list", a famosa lista negra de desconfiança, para a Apple, Qualcomm e Cisco.

O balanço patrimonial do Fed já chega a 33% do PIB. Está longe ainda do Japão e Suiça, mas acaba de passar o Banco da Inglaterra e se aproxima bem do ECB (banco central europeu), como você pode ver no gráfico abaixo:

Fora do eixo EUA-China, a Austrália também divulgou nessa semana o seu número de desemprego, e também foram dados preocupantes: quase 600 mil desempregados a mais no mês de Abril numa economia que conta com uma força de trabalho de 11.9 milhões