Estão fechando as portas para o pequeno e médio empresário nos EUA

Vocês ouviram e leram na mídia por ai que existe uma avalanche de dinheiro sendo imprimida pelos bancos centrais, para ajudar a economia e as empresas a sobreviverem, não é mesmo? A história não é bem por ai. Tem os seus meandros e caminhos torturosos, mas normalmente a mídia vai preferir te passar o que consegue triar facilmente. Ir a fundo para descobrir a causa de um problema, para poder passar a informação mais precisa, não é um dos objetivos das grandes mídias. O que eles querem é somente vender mais do mesmo, promovendo o pânico, para ganhar cliques e likes, e ganhar mais patrocinadores. Meu objetivo por aqui é mais audacioso, no DocNews: mostrar os fatos com um olhar mais comum, do dia a dia, da economia de fato, não da economia que aparece em televisão. 

Não é de hoje que pequenos empresários sentem primeiro os efeitos das graves crises econômicas. Empresas grandes sempre se viram bem, pois tem um lobby importante em qualquer governo, e se acomodam no tal do "too big to fail" (muito greande para quebrar. Mas as pequenas empresas não: elas tem que batalhar para conseguir empréstimos para sobreviver e fazer o business crescer. Mas quando as crises acontecem o funil de empréstimos fica mais estreito, e esta crise de agora não é diferente.

O que vemos hoje por aqui nos EUA é que os bancos parceiros do Fed - a quem eu chamo mui respectosamente de "amigos do rei" - estão recebendo SIM um monte de dinheiro para colocar na economia. Mas, por conta das restrições impostas pelas regulamentações que vieram depois da GCF (Grande Crise Financeira) de 2008, o dinheiro chega fácil até os bancos, mas ficam represados em normas imensas para liberação do empréstimo. E para muitos setores - aqueles que os bancos acreditam que vão sofrer por conta do Covid19 - o dinheiro simplesmente secou por completo.

Neste final de semana vi um post no Twitter de uma pessoa que, apesar de não se identificar por completo, pertence ao mundo de empréstimos para pequenas empresas. O relato é assustador, e mostra que podemos em breve viver uma crise ainda maior do que aquela que se passou nos últimos 3 meses. 

Resolvi traduzir o fio para que vocês possam observar como esse problema é grave, e pode gerar muito mais confusão no futuro. O perfil no Twitter é FEDUPBIZOWNER (@HRGPFOREVER), para quem quiser ver o conteúdo original. Aproveitem a leitura. Os grifos em itálico são comentários meus para ajudar a entender os termos.

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"Tempo de bebida forte. Para os novos, aqui está o meu histórico. Sou advogado por profissão, mas nunca pratiquei. Eu possuo e opero uma empresa de consultoria cujo objetivo final é estabelecer e conceder empréstimos através de múltiplos canais de financiamento a franqueados de grandes e pequenas cadeias, nacionalmente.

As redes de franquia com as quais trabalho muitos de vocês são familiarizados --Dominos Pizza, Jersey Mikes, Massage Envy, European wax center, The Joint, Club Pilates, Jimmy Johns, Wingstop, Orangetheory, Moes Southwest. (NOTA: muitas dessas franquias são bem conhecidas aqui, principalmente a Dominos Pizza e o Jimmy Johns, duas redes enormes de franquiados)

E muitos outras. A questão é que eu tenho ampla exposição nacional a muitas indústrias.

Os bancos com os quais trabalho são ligados a SBA, credores convencionais que atendem a empréstimos menores de menos de US$ 2M e, geralmente, operadoras menores desses sistemas de franquia e, em seguida, bancos maiores que concedem empréstimos a operadoras maiores de US$ 2 a US$ 50M. Sou pequeno - mais de 20 bancos em todo o espectro de empréstimos a SME (small and medium enterprises, ou pequena e média empresa)

OBS - A SBA é a única agência federal em nível de gabinete totalmente dedicada a pequenas empresas e fornece aconselhamento, capital e experiência em contratação como o único recurso e voz do país para pequenas empresas.

Financio US$400-500M (400 a 500 milhões de dólares) em empréstimos por ano através desses bancos. Em fevereiro, estávamos no ritmo de financiar mais de US$ 500M e potencialmente US$ 750M - crescendo exponencialmente ano após ano.

TEMPO PARA UMA BEBIDA FORTE, AINDA. Desde 1º de abril, financiamos um total de US$ 5 milhões em apenas 2 bancos. Vamos nos aprofundar no porquê.

Bancos SBA - eles têm limites de empréstimo de US$ 5M. O Congresso os autorizou a ir a US$ 10M na Lei CARES, mas os bancos a ignoraram. Isso se tornará importante mais tarde no post.

Atualmente, eles têm garantias do governo em 80% dos empréstimos - parece muito bom, certo? NÃO IMPORTA: MESMO ASSIM OS BANCOS NÃO EMPRESTAM

Na verdade, eles estão pressionando o governo a garantir 90% dos empréstimos (e provavelmente a caminho de 100% - veja meus posts anteriores sobre a nacionalização de fato do sistema bancário). Em suma, a SBA FECHOU AS PORTAS PARA AS EMPRESAS esperando por mais do tio Sam.

As desculpas atuais são das mais esfarrapadas (e isso se aplica a todos os segmentos bancários). Uma cadeia de lojas com aumento de vendas desde a pandemia = sem empréstimo. "Queremos esperar para ver se os aumentos de vendas são sustentáveis", dizem os bancos. Não importa se as vendas estão em alta. Elas podem não ser "sustentáveis".

Por outro lado, para empresas com vendas baixas = "bem, apenas não estamos confortáveis ​​se as vendas vão se recuperar e temos preocupações com o COVID19".

Então, as vendas aumentam = sem empréstimo. Se as vendas estão caindo ou já estão baixas = nenhum empréstimo. Tamanho do operador é IRRELEVANTE. Alguns bancos estão emprestando? Sim. Mas o que estou contando aqui representa 75-80% dos bancos da SBA.

Eles também estão sendo EXTREMAMENTE seletivos nos setores para onde vão liberar o empréstimo. Se você é um setor com “grandes aglomerações públicas”, é melhor rezar para o Papai Noel para ele te dar dinheiro.

Vamos aos bancos convencionais. Um fato pouco conhecido é que mais de 50% deixaram o espaço de franquia por inteiro. Dos 50% restantes - 90% deles não estão recebendo novos clientes. E eles não estão emprestando também para seus clientes antigos, geralmente.

Para que os bancos convencionais emprestem (pense nas questões do tipo de empréstimo JUMBO no mercado hipotecário, empréstimos acima de 550 mil dólares geralmente), você precisa ser um tomador de empréstimo A + (como ótima nota de crédito) em uma marca comprovada, e tem que ser um cliente de longa data. As vendas precisam estar em alta em quase todas as unidades e você precisa esatar há muito tempo nos negócios. Vamos ver dois exemplos:

Um cliente é um franqueado de Jimmy Johns (rede de franquias de hamburguerias gourmet). Ele possui mais de 20 unidades. Ele tem US$ 7 milhões de dívidas e US$ 3 milhões de EBITDA. Esse é um acordo alavancado em 2,5x, BOM e normalmente fácil de se conseguir empréstimo (NOTA - para se ter uma idéia, a alavancagem financeira da Tesla até o ano passado era na casa de 5x, e no Q1 de 2020 era de 4x). O problema é que os credores não querem se arriscar na marca porque estão preocupados que as tendências não são sustentáveis, eles apenas dizem o seguinte:

 
Vamos ver as barreiras que um tomador de empréstimo (pequena e média empresa) tem que vencer para conseguir FECHAR um empréstimo que já havia sido PRÉ-APROVADO (dica: no final o empréstimo foi negado):
Mais um exemplo para você guardar. Um dos bancos da SBA com quem trabalho está entre os 5 principais em volume de empréstimos fechados no país. Não vou dizer qual é, não adianta perguntar. O representante deles me disse ontem que fecharam dois empréstimos desde março. Em suma, as SME (pequenas e médias empresas) ESTÃO CORTADAS DO FLUXO de CAPITAL.

Agora vamos falar sobre políticas governamentais, como empréstimos EIDL especificamente. (Nota: EIDL é a sigla para Economic Injury Disaster Loans, empréstimos da SBA criados para essa crise do Covid19 - em teoria, este empréstimo tem por objetivo "provide economic relief to small businesses and non-profit organizations that are currently experiencing a temporary loss of revenue" - proporcionar alivio econômico para pequenos negócios e ONGs que estão experimentando uma perda temporária de receita). 
 
Quase todos os proprietários de empresas que conheço fizeram um empréstimo do EIDL. Mas a SBA põe em risco todas as empresas que adotam um empréstimo desses - vejamos porque.
 
Imagine que você é um credor convencional. Você exige uma primeira posição de penhor em todos os ativos para fazer um empréstimo. O cliente deseja comprar 5 locais ou refinanciar dívidas, por exemplo. Como o governo tem um ônus para fazer esse acordo, o governo tem que subordinar (eles não são iniciantes neste campo) OU o mutuário precisa refinanciar o EIDL de 30 para 7 anos.

Isso mata o fluxo de caixa e dificulta o refinanciamento ou a compra de unidades e, com o aumento do crescimento de solicitações é muito mais difícil. Credores convencionais com condições geralmente melhores e melhores taxas são forçados a sair do mercado, mesmo que de outra forma estariam dispostos a emprestar - afinal, o governo tem a 1a posição de penhor, sempre.

Agora, voltemos ao irritante limite do SBA. Se você atingir o limite e os empréstimos convencionais são fechados para você porque os credores não existem ou por razões como as acima - O QUE VOCÊ PODE FAZER? A resposta é a parte mais assustadora.

A única via que resta para as operadoras crescerem será o capital privado - private equity (tome um gole forte agora, é melhor). Bem, dê uma olhada em todos os conceitos para entender o problema. Eles têm uma coisa em comum - são abutres esses private equity.

Para finalizar: pequenas e médias empresas não pode acessar novo capital facilmente. Mesmo que eles possam se qualificar e um banco esteja disposto a emprestar, políticas governamentais como o EIDL tornaram todos os empréstimos não governamentais extremamente difíceis para o mutuário fazer, financeiramente falando. Isso destruirá o crescimento das empresas.

Além disso, somos uma economia baseada em dívida. Vou deixar você com isso - como exatamente os empregos podem ser preservados e as empresas continuarem existindo se não conseguem acessar o capital de maneira eficaz?

Fico feliz em explicar qualquer um dos itens abordados aqui. O Twitter é uma forma muito difícil de expressar tudo, por isso, se alguém quiser mais detalhes sobre algo que eu possa ter inadvertidamente ignorado, envie uma mensagem para mim ou poste para que outras pessoas vejam minhas respostas. Vamos Beber."
 
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O post é preocupante, para dizer o mínimo. Vamos ver onde tudo isso vai acabar, mas esteja atento quando você ouvir que o governo está fazendo o possivel para ajudar o pequeno e médio empresário. Até certo ponto está, mas o sistema é extremamente complexo e com muitos players. E tem eleição pela frente e muita coisa pode ser simplemente para conseguir o voto de muita gente. A realidade - pra variar - é sempre diferente do mundo mágico da política.
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