O que é o efeito Cantillon na economia?

A maioria dos economistas concordam que o dinheiro é importante, mas ao mesmo tempo discordam - e muito - quando se trata de falar como o dinheiro é importante. Alguns dizem que isso importa apenas no curto prazo, enquanto outros acreditam que isso importa no curto e no longo prazo. Os economistas da Escola Austríaca sustentam que o dinheiro importa muito em termos concretos no curto prazo imediato e tem efeitos permanentes no longo prazo.

A economia mundial passou por mais de uma década de política monetária radical - que ainda não está comprovada como eficiente, por conta da atuação intervencionista dos bancos centrais e da falta de soluções definitivas para nos livrarmos de crises. Aliando isso a meio século de moedas fiduciárias, os efeitos de qualquer ação na demanda e oferta de moeda são mais importantes do que nunca de serem entendidos hoje em dia. 

Um ponto importante e que foi descrito há muito tempo é o efeito Cantillon. Esse efeito recebeu o nome de Richard Cantillon, o primeiro teórico econômico, que escreveu, por volta de 1730, que o efeito do dinheiro novo dependia de onde ele foi injetado na economia. Quem se beneficia primeiro dessa bonanza - como sempre - acaba sendo quem está mais perto do poder da impressora: grandes empresas e bancos.

Muita gente acredita na neutralidade do dinheiro, ou seja, que o dinheiro não afeta a economia no longo prazo. Isso é muito contextado por alguns autores, e para mim o que devemos pensar é na "neutralidade dinâmica" do dinheiro: inicialmente ele pode não afetar as coisas, mas no longo prazo se a injeção de moeda na economia for muito grande é praticamente impossível de não trazer efeitos deletérios no futuro.

O que Cantillon propunha de certa forma é até simples de ser entendido. Tudo começa com um aumento na oferta de dinheiro  - como a impressão digital de Jerome Powell e do Fed que estamos vendo agora - e quem é que recebe o dinheiro pela primeira vez. O aumento de dinheiro altera a distribuição de renda em favor de quem recebe o novo dinheiro pela primeira vez - no caso atual, os grandes bancos parceiros e as empresas que tem bonds corporativos e estão de certa forma sendo "salvas" pelo Fed.

Aqui é que mora o problema, e é por isso que no curto prazo não vemos um cenário de inflação: dependendo das preferências daqueles que primeiro recebem o dinheiro, alguns bens experimentam um aumento na demanda, enquanto outros bens experimentam uma diminuição relativa. Por sua vez, isso altera a produção de vários bens e, finalmente, os investimentos. Os bancos estão se esforçando em dizer que por enquanto não tem como distribuir todo o dinheiro que estão recebendo na sociedade que necessita tanto dessa ajuda, num momento de crise. Dizem que tem suas regras, que precisam ver para quem vão emprestar, entre outras desculpas. Que até certo ponto são compreensíveis, mas não se iluda: bancos e grandes corporações vão sempre estar na frente do pequeno empresário que está sofrendo para reabrir sua barbearia ou seu restaurante. Muitos não vão pegar nessa grana - mesmo porque podem fechar as portas em definitivo antes do dinheiro chegar até eles.

Cantillon notou que, se o dinheiro novo chegasse às mãos dos poupadores, a taxa de juros diminuiria, mas se chegasse às mãos dos consumidores, a taxa de juros aumentaria, pois os empreendedores precisariam emprestar mais para atender ao aumento da demanda para mercadorias.

O economista austríaco Friedrich August von Hayek comparou essa expansão monetária com o mel. Se você derramar mel em um copo, ele não se espalhará uniformemente logo de cara. Ele se aglomerará no meio do copo antes de se espalhar. 

Hoje o que vemos é um exemplo clássico de que o pote de mel está enchendo nos bancos parceiros do Fed e nas empresas que emitiram bonds corporativos e agora estão tendo como compradores destas dividas ninguem menos do que o dono a impressora de dinheiro. Muita gente já questiona esse modelo, e já se fala que os mais de 2 trilhões de dolares imprimidos foram pouco - o Fed já disse que se precisar imprimir mais não vai titubiar. Um cenário de inflação é esperado no futuro, sem dúvida, só resta saber quando é que teremos isso.

Note como a velocidade do dinheiro vem diminuindo consideravelmente desde 1997. Por isso é que a geração espontânea de dinheiro do Fed ainda não causa inflação. É o Efeito Cantillon em pessoa.

Por enquanto Main Street ainda espera o pote de mel encher um pouco mais para as bordas, para ver se consegue sobreviver a uma crise única na história recente do mundo. Vamos ver se onde o mel chegou primeiro o que chegou foi necessário para saciar a fome da turma. Senão vão ter que pedir mais para as abelhas de Washington DC.

OBS - Se você quiser conhecer mais sobre o Efeito Cantillon sugiro a leitura no livro An Essay on Economic Theory: An English Translation of hte Authors Essai sur la Nature du Commerce en Général (2010) - o livro está disponível em pdf clicando aqui

 

 
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