A crise que estamos vivendo hoje é realmente sem precedentes, principalmente pela forma como está sendo escrita. O roteiro parece de filme: um virus desconhecido que começou a infectar pessoas na China (e não faltaram teorias conspiratórias para falar que foi tudo orquestrado pelo governo chinês), se espalhou rapidamente pelo mundo, ganhou a midia social como nunca antes aconteceu na história, e que assustou e ainda assusta muito gente. Tudo parece muito novo e muitos estão com medo de morrer por conta do desconhecido. O que chama a nossa atenção agora é que as pessoas estão começando a perceber na pele um outro lado dessa história: o problema econômico gigantesco que foi criado pelas recomendações de quarentena mundo afora. Agora além de ter medo de morrer se pegar o virus o povo está com medo de não sobreviver a essa inédita crise econômica que surgiu do dia pra noite. Se a morte rápida por conta das complicações do Covid19 assustam no curto prazo, maior ainda é o susto da morte lenta e progressiva se deixarmos a economia ruir.
Apesar de tudo ser novo e desconhecido nos problemas econômicos que estamos vendo, tem uma coisa que não tem nenhum ineditismo nisso tudo: a interferência dos bancos centrais para imprimir dinheiro e ajudar os bancos quando a coisa aperta. Mas nem sempre foi assim, pois antes da moeda fiduciária tinhamos o padrão-ouro, onde qualquer impressão de moeda tinha que mostrar certa paridade com o valor estabelecido por esse tão conhecido metal precioso. Vamos lembrar um pouco de como isso foi importante na história da economia.
Você tem saudades do padrão-ouro?
O padrão-ouro (Gold Standard) é um sistema monetário em que a moeda ou papel-moeda de um país tem um valor diretamente vinculado ao ouro. Com o padrão-ouro, os países concordaram em converter o papel-moeda em uma quantidade fixa de ouro, e isso foi importante durante muitos anos da nossa história.
Um país que usa o padrão-ouro estabelece uma relação de preço entre esse metal precioso e o valor da sua moeda. Por exemplo, se os EUA definissem o preço do ouro em US$ 500 a onça, o valor do dólar seria 1 / 500th de onça. Parece simples, não é mesmo?
O padrão-ouro, porém, não é atualmente usado por nenhum governo. A Grã-Bretanha parou de usar o padrão-ouro em 1931 e os EUA seguiram o exemplo em 1933, e abandonaram os remanescentes do sistema em 1973.
O padrão-ouro foi completamente substituído pelso sistema de moeda fiduciária (fiat money, para quem quiser pesquisar os artigos em inglês), um termo usado para descrever a moeda a ser usada por conta de uma ordem de governo, ou decreto, que diz que a moeda deve ser aceita como meio de pagamento. Nos EUA, por exemplo, o dólar é a moeda fiduciária.
O apelo para se ter um padrão-ouro é que ele tira o controle da emissão de dinheiro das mãos de seres humanos imperfeitos. Com a quantidade física de ouro atuando como um limite para essa emissão, uma sociedade poderia seguir uma regra simples para evitar os males da inflação.
Devemos também lembrar que o objetivo de qualquer política monetária não é apenas impedir a inflação, mas também evitar uma deflação, e ajudar a promover um ambiente monetário estável no qual o pleno emprego possa ser alcançado.
Uma breve história do padrão ouro dos EUA é suficiente para mostrar que, quando uma regra tão simples é adotada, a inflação pode ser evitada, mas a estrita adesão a essa regra pode criar instabilidade econômica, ou pior (para os governantes): uma instabilidade política. Dá para entender claramente porque os politicos e burocratas do poder não gostam do padrão-ouro quando lembramos que isso limita um pouco os abusos que podem cometer emitindo moeda.
Gold Standard versus Fiat Money
Resumindo então, para ficar claro: como o próprio nome sugere, o termo padrão-ouro se refere a um sistema monetário no qual o valor da moeda é baseado no ouro. Um sistema fiduciário (fiat money), por outro lado, é um sistema monetário no qual o valor da moeda não se baseia em nenhuma mercadoria física, e pode flutuar dinamicamente em relação a outras moedas nos mercados de câmbio.
O termo "fiat" é derivado do latim "fieri", que significa um ato ou decreto arbitrário. De acordo com essa etimologia, o valor das moedas fiduciárias é, em última análise, baseado no fato de que elas são definidas como legais por meio de um decreto do governo.
Um pouco de história sobre o padrão-ouro
Nas décadas anteriores à Primeira Guerra Mundial, o comércio internacional foi conduzido com base no que passou a ser conhecido como o padrão-ouro clássico. Nesse sistema, o comércio entre as nações era estabelecido usando ouro físico. As nações com superávits comerciais acumularam ouro como pagamento por suas exportações. Por outro lado, os países com déficits comerciais viram suas reservas de ouro declinarem, pois o ouro fluiu para fora desses países como pagamento por suas importações.
"Temos ouro porque não podemos confiar nos governos", disse o presidente Herbert Hoover em 1933 em sua declaração a Franklin D. Roosevelt. Essa declaração antecedeu um dos eventos mais draconianos da história financeira dos EUA: a Lei Bancária de Emergência (Emergency Banking Act), que obrigou todos os americanos a converter suas moedas, barras de ouro e certificados em dólares americanos.
Embora a legislação tenha interrompido com êxito a saída de ouro durante a Grande Depressão, não mudou a convicção dos amantes do ouro, pessoas que estão sempre confiantes na estabilidade do ouro como fonte de riqueza.
O ouro tem uma história como a de nenhuma outra classe de ativos, na medida em que exerce uma influência única sobre sua própria oferta e demanda. Tem até um termos em inglês que define as pessoas apaixonadas pelo investimento em ouro: gold bugs ("insetos do ouro" na tradução literal, que perde um pouco o sentido entretanto quando traduzimos para o português). Os gold bugs ainda se apegam a um passado quando o ouro reinava soberano, mas o passado das histórias do ouro também inclui quedas e problemas que devem ser entendidos para avaliar adequadamente seu futuro.
Um caso de amor pelo padrão-ouro que dura 5.000 anos
Por 5.000 anos, a combinação de brilho, maleabilidade, densidade e escassez do ouro cativou a humanidade como nenhum outro metal. De acordo com o livro de Peter Bernstein, "O poder do ouro: a história da obsessão" (The Power of Gold: The History of Obsession), o ouro é tão denso que uma tonelada dele pode ser compactada em um pé cúbico.
No início dessa obsessão o ouro era usado apenas para adoração, e até hoje o uso mais popular é na fabricação de jóias. Por volta de 700 a.C., o ouro foi transformado em moedas pela primeira vez, aumentando seu potencial de uso como unidade monetária. Na época o ouro tinha que ser pesado e verificado quanto à pureza ao liquidar negócios, para atestar o seu valor no escambo.
Moedas de ouro não eram uma solução perfeita, pois uma prática comum nos próximos séculos era juntar essas moedas ligeiramente irregulares para acumular ouro suficiente que pudesse ser derretido. Em 1696, o Great Recoinage, na Inglaterra, introduziu uma tecnologia que automatizou a produção de moedas e pôs fim a prática de juntar moedas e derretar para virar ouro comercializável em mercados secundários.
Como não era fácil achar terras e montanhas onde pudesse ser facilmente extraído, o suprimento de ouro se expandia apenas por meio de deflação, comércio, pilhagem ou degradação.
A descoberta da América no século XV trouxe a primeira grande corrida do ouro. A pilhagem de tesouros da Espanha no Novo Mundo elevou o suprimento de ouro da Europa em cinco vezes no século XVI. Subseqüentes arremetidas e buscas por ouro nas Américas, Austrália e África do Sul ocorreram no século XIX.
A introdução do papel-moeda na Europa ocorreu no século XVI, com o uso de instrumentos de dívida emitidos por particulares. Enquanto moedas de ouro e barras de ouro continuavam a dominar o sistema monetário da Europa, foi somente no século 18 que o papel-moeda começou a dominar. A luta entre papel-moeda e ouro acabaria resultando na introdução do padrão-ouro.
A ascensão do padrão ouro
O padrão-ouro é um sistema monetário no qual o papel-moeda é livremente conversível em uma quantidade fixa de ouro. Em outras palavras, nesse sistema monetário, o ouro apóia o valor do dinheiro. Entre 1696 e 1812, o desenvolvimento e a formalização do padrão-ouro começaram quando a introdução do papel-moeda se mostrou problemática.
A Constituição dos EUA em 1789 deu ao Congresso o direito exclusivo de cunhar dinheiro e o poder de regular seu valor. A criação de uma moeda nacional única permitiu a padronização de um sistema monetário que até então consistia na circulação de moedas estrangeiras, principalmente prata.
Com a prata em maior abundância em relação ao ouro, um padrão bimetálico foi adotado em 1792. Embora a taxa de paridade prata-ouro adotada oficialmente de 15:1 refletisse com precisão a taxa de mercado da época, após 1793 o valor da prata declinava constantemente, pressionando o ouro para fora da circulação monetária, (no que é conhecido de acordo com a lei de Gresham).
A questão não seria sanada até a Lei de Cunhagem de 1834 (Coinage Act of 1834), e não sem forte animosidade política. Os entusiastas do dinheiro duro defendiam uma proporção que devolveria moedas de ouro à circulação, não necessariamente para retirar a prata, mas para retirar notas de papel de pequena denominação emitidas pelo então odiado Banco dos Estados Unidos. Uma proporção de 16:1 que supervalorizou descaradamente o ouro foi estabelecida e reverteu a situação, colocando os EUA em um ambiente de padrão-ouro de fato.
Em 1821, a Inglaterra se tornou o primeiro país a adotar oficialmente um padrão-ouro. O aumento dramático do século no comércio e produção globais trouxe grandes descobertas de ouro, o que ajudou o padrão-ouro a permanecer intacto até o século XX. Como todos os desequilíbrios comerciais entre as nações foram resolvidos com ouro, os governos tiveram forte incentivo para estocar ouro em tempos mais difíceis. Esses estoques ainda existem hoje.
O padrão ouro internacional surgiu em 1871, após sua adoção pela Alemanha. Em 1900, a maioria das nações desenvolvidas estava ligada ao padrão ouro. Ironicamente, os EUA foram um dos últimos países a aderir. De fato, um forte lobby de prata impediu que o ouro fosse o único padrão monetário nos EUA ao longo do século XIX.
De 1871 a 1914, o padrão-ouro estava no auge. Durante esse período, condições políticas quase ideais existiram no mundo. Os governos trabalharam muito bem juntos para fazer o sistema funcionar, mas tudo mudou para sempre com o início da Primeira Grande Guerra Mundial em 1914.
A Queda do Padrão Ouro
Com a Primeira Guerra Mundial, as alianças políticas mudaram, o endividamento internacional aumentou e as finanças do governo se deterioraram. Embora o padrão-ouro não tenha sido suspenso, ele ficou no limbo durante a guerra, demonstrando sua incapacidade de aguentar os bons e os maus momentos. Isso criou uma falta de confiança no padrão-ouro que só exacerbou as dificuldades econômicas. Tornou-se cada vez mais aparente que o mundo precisava de algo mais flexível para fundamentar sua economia global.
Ao mesmo tempo, o desejo de retornar aos anos dourados do padrão-ouro permaneceu forte entre as nações. À medida que o suprimento de ouro continuava caindo , a libra esterlina e o dólar americano se tornavam as moedas de reserva global. Os países menores começaram a deter mais essas moedas ao invés de ouro. O resultado foi uma consolidação acentuada do ouro nas mãos de algumas grandes nações.
Crash de 1929
O crash da bolsa de 1929 foi apenas uma das dificuldades do mundo pós-guerra. A libra e o franco francês estavam terrivelmente desalinhados com outras moedas; dívidas de guerra e repatriações ainda sufocavam a Alemanha; os preços das commodities estavam em colapso; e os bancos estavam superdimensionados.
Muitos países tentaram proteger seu estoque de ouro aumentando as taxas de juros para atrair investidores a manter seus depósitos intactos, em vez de convertê-los em ouro. Essas taxas de juros mais altas só pioraram as coisas para a economia global. Em 1931, o padrão-ouro na Inglaterra foi suspenso, deixando apenas os EUA e a França com grandes reservas de ouro.
Então, em 1934, o governo dos EUA revalorizou o ouro de US$ 20,67 / oz para US$ 35 / oz, aumentando a quantidade de papel-moeda necessária para comprar uma onça para ajudar a melhorar sua economia. À medida que outras nações podiam converter suas reservas de ouro existentes em mais dólares americanos, uma dramática desvalorização do dólar ocorreu instantaneamente. Esse preço mais alto do ouro aumentou a conversão de ouro em dólares dos EUA, permitindo efetivamente que os EUA encurralassem o mercado de ouro. A produção de ouro disparou e, em 1939, havia o suficiente no mundo para substituir toda a moeda global em circulação.
Bretton Woods (julho 1944)
Quando a Segunda Guerra Mundial estava chegando ao fim, as principais potências ocidentais se reuniram para desenvolver o Acordo de Bretton Woods, que seria a estrutura para os mercados monetários globais até 1971.
Bretton Woods é uma cidade em New Hampshire, um dos estados da Nova inglaterra (EUA), e está há pouco mais de 3 horas de carro de Boston, nas colinas geladas do Mount Washington - o hotel onde a reunião foi realizada (foto) continua por lá ainda hoje para os turistas que gostam de esquiar no inverno.
No sistema de Bretton Woods, todas as moedas nacionais foram avaliadas em relação ao Dólar Americano, que se tornou a moeda de reserva dominante. O dólar, por sua vez, era conversível em ouro à taxa fixa de US$ 35 por onça. O sistema financeiro global continuou a operar com um padrão-ouro, embora de maneira mais indireta.
O acordo resultou em uma relação interessante entre o ouro e o dólar americano ao longo do tempo. A longo prazo, um dólar em declínio geralmente significava aumento dos preços do ouro. No curto prazo, isso nem sempre era verdade, e o relacionamento poderia ser tênue, na melhor das hipóteses. Porém, via de regra, à medida que o dólar subia, o ouro normalmente diminuia de valor.
No final da Segunda Guerra Mundial, os EUA possuíam 75% do ouro monetário do mundo e o dólar era a única moeda ainda apoiada diretamente pelo ouro. No entanto, quando o mundo se reconstruiu após a Segunda Guerra Mundial, os EUA viram suas reservas de ouro caírem constantemente à medida que o dinheiro fluía para nações devastadas pela guerra e sua própria alta demanda por importações. O ambiente inflacionário elevado do final da década de 1960 sugou o último fluxo de ar do padrão-ouro.
Em 1968, um Gold Pool, que incluía os EUA e várias nações européias, parou de vender ouro no mercado de Londres, permitindo que o mercado determinasse livremente o seu preço. De 1968 a 1971, apenas bancos centrais podiam negociar com os EUA a US$ 35/oz. Ao disponibilizar um conjunto de reservas de ouro, o preço de mercado do ouro poderia ser mantido em linha com a taxa de paridade oficial. Isso aliviou a pressão sobre os países membros para apreciar suas moedas e manter suas estratégias de crescimento lideradas pelas exportações.
No entanto, a crescente competitividade de nações estrangeiras combinada com a monetização da dívida para pagar por programas sociais e pela Guerra do Vietnã logo começaram a pesar na balança de pagamentos dos Estados Unidos. Com um superávit virando déficit em 1959 e crescentes temores de que nações estrangeiras começassem a resgatar seus ativos denominados em dólares por ouro, o senador John F. Kennedy emitiu uma declaração nos estágios finais de sua campanha presidencial de que, se eleito, ele não iria desvalorizar o dólar.
O Gold Pool entrou em colapso em 1968, pois os países membros relutavam em cooperar totalmente na manutenção do preço de mercado pelo preço do ouro nos EUA. Nos anos seguintes, a Bélgica e a Holanda faturaram dólares em ouro, com a Alemanha e a França expressando intenções semelhantes.
Em agosto de 1971, a Grã-Bretanha solicitou o pagamento em ouro, forçando a mão de Nixon e fechando oficialmente a janela de ouro. A partir de 1976, era oficial: o dólar não seria mais definido pelo ouro, marcando assim o fim de qualquer aparência de um padrão-ouro.
Em agosto de 1971, Nixon cortou a conversibilidade direta de dólares americanos em ouro. Com essa decisão, o mercado internacional de moedas, que se tornara cada vez mais dependente do dólar desde a promulgação do Acordo de Bretton Woods, perdeu sua conexão formal com o ouro. O dólar dos EUA e, por extensão, o sistema financeiro global que ele efetivamente sustentou, entraram na era do dinheiro fiduciário.
Uma morte anunciada
Embora uma forma menor do padrão-ouro continuasse até 1971, sua morte começou séculos antes com a introdução do papel-moeda - um instrumento mais flexível para o nosso complexo mundo financeiro. Hoje, o preço do ouro é determinado pela demanda do metal e, embora não seja mais usado como padrão, ele ainda desempenha uma função importante. O ouro é um importante ativo financeiro para países e bancos centrais. Também é usado pelos bancos como uma forma de proteger contra empréstimos feitos ao governo e como um indicador de saúde econômica.
Sob um sistema de livre mercado, o ouro deve ser visto como uma moeda como o euro, o iene ou o dólar americano. O ouro tem uma relação de longa data com o dólar americano e, a longo prazo, o ouro geralmente terá uma relação inversa. Com instabilidade no mercado, é comum ouvir falar em criar outro padrão-ouro, mas não é um sistema sem falhas.
Visualizar o ouro como uma moeda e negociá-lo como tal pode atenuar os riscos em comparação com a moeda de papel e a economia, mas deve haver uma consciência de que o ouro é prospectivo. Se alguém esperar até o desastre, pode não oferecer uma vantagem se ele já tiver mudado para um preço que reflete uma economia em queda.
Moeda Fiduciária (Fiat Money)
Dois fatos devem sempre vir a nossa mente quando lembramos da moeda fiduciária: o fiat money só tem valor porque o governo mantém esse valor, ou porque duas partes em uma transação concordam com esse valor.
Historicamente, os governos cunham moedas de uma mercadoria física valiosa, como ouro ou prata, ou imprimem papel-moeda que pode ser resgatado por uma quantidade definida de uma mercadoria física. O dinheiro fiduciário é inconversível e não pode ser resgatado. A maioria das moedas de papel modernas, incluindo o dólar americano, é dinheiro fiduciário.
Como o dinheiro fiduciário não está vinculado a reservas físicas, como um estoque nacional de ouro ou prata, corre o risco de perder valor devido à inflação ou até se tornar inútil em caso de hiperinflação. Se as pessoas perderem a fé na moeda de uma nação, o dinheiro não será mais valorizado. Isso difere da moeda lastreada em ouro, por exemplo, que possui valor intrínseco devido à demanda por ouro em jóias e decoração, além da fabricação de dispositivos eletrônicos, computadores e veículos aeroespaciais.
O dólar dos EUA é considerado dinheiro fiduciário e legal, aceito para dívidas públicas e privadas. Muitos governos emitem uma moeda fiduciária e, em seguida, fazem o curso legal, definindo-a como padrão para o pagamento da dívida.
No início da história dos EUA, a moeda do país era lastreada em ouro como mostramos há pouco, e em alguns casos, prata. O governo federal parou de permitir que os cidadãos trocassem moeda por ouro do governo com a aprovação da Lei Bancária de Emergência de 1933. O padrão-ouro, que apoiava a moeda americana com ouro federal, terminou completamente em 1971, quando os Estados Unidos também pararam de emitir ouro para estrangeiros e governos em troca da moeda americana.
Prós e contras do Fiat Money
O dinheiro fiduciário serve como uma boa moeda se puder lidar com os papéis que a economia de uma nação precisa com relação a sua unidade monetária: armazenar valor, fornecer uma conta numérica e facilitar o câmbio.
As moedas fiduciárias ganharam destaque no século 20, em parte porque os governos e os bancos centrais tentaram isolar suas economias dos piores efeitos dos booms e crashes naturais dos ciclos de negócios. Como o dinheiro fiduciário não é um recurso escasso ou fixo como o ouro, os bancos centrais têm um controle muito maior sobre sua oferta, o que lhes dá o poder de gerenciar variáveis econômicas como oferta de crédito, liquidez, taxas de juros e velocidade da moeda. O Federal Reserve dos EUA, por exemplo, tem o duplo mandato de manter o desemprego e a inflação baixos, e por isso pode abrir mão de fazer diversas emissões de papel moeda durante os ciclos que achar convenientes.
A crise das hipotecas de 2007 e o subsequente colapso financeiro, no entanto, amenizaram a crença de que os bancos centrais poderiam necessariamente impedir depressões ou recessões graves ao regular a oferta de moeda. Uma moeda vinculada ao ouro, por exemplo, geralmente é mais estável que a moeda fiduciária, devido à oferta limitada de ouro. Existem mais oportunidades para a criação de bolhas com dinheiro fiduciário devido ao seu suprimento ilimitado, e é essa a nossa maior preocupação nos dias de hoje.
A nação africana do Zimbábue forneceu um exemplo do pior cenário no início dos anos 2000. Em resposta a sérios problemas econômicos, o banco central do país começou a imprimir dinheiro em um ritmo impressionante. Isso resultou em hiperinflação, que oscilou entre 230 e 500 bilhões por cento em 2008. Os preços subiram rapidamente e os consumidores foram obrigados a carregar sacos de dinheiro apenas para comprar itens básicos. No auge da crise, 1 trilhão de dólares do Zimbábue valia cerca de 40 centavos em moeda americana.
O Brasil chegou a passar por crises de hiper-inflação. Entre 1985 e 1994, a taxa de inflação acumulada foi estimada em 184.901.570.954,39%, por conta da impressão desenfreada de papel-moeda. Eu me lembro bem dessa época, pois estava iniciando a faculdade e os jornais e TVs mostravam sempre o problema. Em 28 de fevereiro de 1986 o Presidente José Sarney lançava o Plano Cruzado, desvalorizando a moeda e anunciando o congelamente de preços. Não adiantou muito, e em 1988 os dados sobre inflação no ano de 1988 mostrou que nos 12 meses daquele ano os preços aumentaram em 1.014,285%.
Mas vamos voltar ao nosso assunto principal, lembrando dos problemas de não termos o padrão-ouro hoje.
Será que o Fed está caindo na arapuca do fiat money?
Nesta última semana todos se assustaram com o que viram do Fed: uma determinação de imprimir mais de 2 trilhões de dólares, o que há pouco seria inimaginável de uma só vez. Já equivale a mais do que foi injetado na crise de 2008, e o medo de todos é que isso gere uma enorme inflação com o tempo.
Se a inflação vai acontecer ou não só o tempo dirá, mas uma coisa chama a atenção: esse dinheiro não está indo parar na mão da população rapidamente. Mas isso é tema para uma próxima conversa. Deixo o gráfico abaixo sobre o estoque de M2 e a velocidade do M2 na economia. Para vocês quebrarem um pouco a cabeça.
Pensem nisso: o dinheiro está de graça na praça, para aqueles que tem crédito, obviamente. Quem está emprestando não quer receber juros (ou até mesmo vai pagar pra emprestar o dinheiro), nem quer nenhuma garantia ligada ao empréstimo para emprestar esse dinheiro. Grandes fundos de investimento estão literalmente empurrando dinheiro para as empresas, mesmo que muitas não estejam querendo. Os déficits sobem sem parar, a liquidez somente aumenta exponencialmente, e mesmo assim as empresas não estão produzindo mais produtos para a sociedade na mesma velocidade do dinheiro que está disponível. O dinheiro físico não é mais garantia de nada, e hoje o dinheiro virou dígitos numa plataforma de computador, trocando de dono facilmente, mas não criando mais o valor que criava no passado.
Você acha que isso tem chance de acabar bem? Pra mim o que vem pela frente não é nada bom.