"Success isn't measured by money or power or social rank. Success is measured by your discipline and inner peace."
Sucesso não é medido pelo dinheiro ou poder ou ranking social. Sucesso é medido pela sua disciplina e paz interior" (Mike Ditka, ex-jogador de futebol americano e ex-técnico, comentarista esportivo
Ser altamente disciplinado é extremamente difícil. Isso vai contra quase todos os impulsos que temos incorporado em nossa genética, que nos leva mais ao hedonismo do que a uma conduta de auto-reflexão perante o dia a dia de inúmeros problemas a serem resolvidos.
A disciplina também tem um outro ponto interessante: é fácil ser disciplinado quando as coisas estão indo do seu jeito, da forma como você estimou e planejou que fossem acontecer. Mas o mundo é uma caixinha de surpresas, um universo regido por leis naturais que fazem do aleatório a rotina, não o esporádico.
A verdadeira disciplina entra em ação quando as coisas estão indo contra você, às vezes de forma significativa ou drástica. Quando toda semana parece um mês, quando você está cheio de dúvidas e constantemente questionando cada parte de seu processo de investimento - por exemplo - quando outros expressam ceticismo sobre suas crenças fundamentais, e até mesmo amigos e colegas começam a duvidar de você e de seu processo, é aí que a disciplina se torna mais e mais necessária – praticamente obrigatória, eu diria.
Nas épocas de angústia e desespero – e no mercado financeiro isso normalmente ocorre quando a bolsa cai muito em uma semana, ou até mesmo em um dia - é que você realmente precisa de disciplina para ter sucesso. Mas esse é precisamente o momento em que você quer gritar: Chega!
Repentinamente cada evento e notícia que você vê é o oposto do que você acreditava, e suas emoções e intelecto gritam: Pare tudo isso, por favor!
E começa a girar uma roda viva cruel: para cada coisa que você lê, ou ouve, as pessoas parecem sempre dizer que você está errado, que você deve abandonar sua persistência tola em idéias que só te levam ao prejuizo, e com isso fazer com que essa dor pare.
A regra aqui é simples: apenas deixe isso parar (simples para colocar em um texto, não é mesmo? Na realidade não é tão simples agira assim). A dor emocional é tão grande, as vezes, que parece uma tortura lenta, dia após dia, e tudo o que você precisa fazer para acabar com a dor é abandonar seu processo tolo de reagir automaticamente a isso e se permitir respirar um pouco.
Se o seu plano foi bem traçado fora do caos, ele provavelmente sobreviverá ao caos. Se você está angustiado demais, e achando que vai perder o que não podia perder o erro não é a falta de disciplina, mas a falta de estratégia. E estratégia não se aprende quando o caos está agindo no seu cérebro primitivo.
Se você continuar dando ouvido a isso (a toda essa manada que se desespera no caos), você vai acabar achando que pode estar errado por muito mais tempo do que acha que pode suportar. E vai se angustiar de uma maneira tal que, quando menos esperar, vai preferir cair fora do jogo (no prejuizo, á claro)
Numa hora como esta todo o peso recente da evidência estará do lado deles, da manada desesperada (e eles vão ficar procurando inúmeras fontes de notícias, sempre alertando para o fim do mundo, para a pior crise da história). A experiência ensina que eles não vêm sozinhos, eles vêm em multidões, justamente por conta das suas convicções individuais não serem o forte. A crítica pode ser ensurdecedora, maliciosa e cruel, e isso pode ser devastador para a sua psique.
De acordo com um artigo publicado em 22 de março de 2012 na revista Psychology Today estes são “Os 5 (apenas) medos que todos compartilhamos”:
Cada um deles desempenha um papel enorme que alimenta ainda mais a sua dúvida e o desejo de abandonar sua disciplina, mas 3, 4 e 5 são os mais cruéis neste caso, porque eles alimentam tudo o que você está sentindo.
Perda de autonomia é a sensação de “estar controlado por circunstâncias além do nosso controle”. É o aluguel da alma e das emoções a um terceiro que as vezes é de pouca boa fé (ou nenhuma). Separação é o sentimento de “rejeição, (e) não (ser) respeitado ou valorizado por qualquer outra pessoa”. E a morte do ego é "medo da humilhação, vergonha, ou da quebra, do sentido construído, da capacidade e dignidade".
A única coisa que você pode fazer é agarrar-se à ideia de que isso também vai passar. Não é muito da linha de vida, né? Todos nós já passamos por situações como essa, em maior ou menor intensidade, e eu não fujo a essa regra. Quando fui questionado sobre um novo tratamento que propunha a meus pacientes (fui médico por mais de 20 anos antes de focar em trades a minha vida), que evitavam uma cirurgia mas ainda era um tratamento novo, muitos dos meus pares médicos me fizeram o alvo preferido de criticas, incluindo grandes lideres acadêmicos. Eu era questionado constantemente em congressos médicos de forma veemente, e por um bom tempo fui obrigado a lutar por isso sozinho, em algumas ocasiões com outros poucos médicos que acreditavam no tratamento, mas não queriam se expor. Essa fase levou uns bons 5 anos da minha vida, mas meu apego e respeito a ciência, ética e disciplina foram os pilares para eu passar por esta situação com paz e tranquilidade. E eu passei por essa fase difícil muito por conta da disciplina de seguir um fundamento único para mim: primeiro não devo fazer o mal (frase que não é minha, é de origem incerta, do Latin, muito usada na Medicina, mas que acho que vale muito para a vida como um todo). Hoje esse tratamento é realizado mundialmente, e internamente a minha satisfação com o êxito observado nos meus pacientes é o que guardarei para sempre na vida.
Voltando as finanças, a pergunta que você deve responder honestamente é - no meio do mau desempenho ou condições de mercado complicadas, você realmente tem a disciplina para permanecer com a emoção de lado e manter seu plano de investimento?
Num comentário do passado de Ben Carlson discutindo a capacidade de Charlie Munger, da Berkshire Hathaway, de resistir a quedas, ele escreveu: “Muitas pessoas simplesmente não nasceram com a fiação correta para serem tão emotivas. A capacidade e disposição de assumir riscos nem sempre são iguais para a maioria dos investidores. Charlie Munger é único. É bom para os investidores se lembrarem disso quando tentarem imitá-lo. Muito poucos conseguem”.
Portanto, seja brutalmente honesto consigo mesmo. Sempre. Auto-critica apurada é uma das grandes qualidades de quem sobrevive neste jogo aleatório.
As crises do mercado podem ser incrivelmente assustadoras e ativar o nosso cérebro primitivo, que é pura emoção. Mas se você puder se lembrar repetidas vezes de que já estivemos aqui antes e estaremos aqui novamente, você vai de uma vez por todas entender que a volatilidade é uma caracteristica desse jogo, não uma coisa esporádica que aconteceu e te pegou de surpresa.
A aleatoriedade e os deslocamentos de preços para cima e para baixo são a razão pela qual as ações e opções existem (com todos os seus risco de curto prazo e volatilidade) e são ótimos instrumentos para gerar desempenhos excelentes no longo prazo. E a volatilidade sempre volta ao normal depois de um tempo, pois senão não seria anormal temporariamente.
Os mercados não estão indo a lugar nenhum, caso você ainda não tenha percebido. Eles sempre estiveram ai dessa maneira, com a magia do esporádico e do aleatório pregando peças. Resta saber se você quer aproveitar a onda para surfar ou para evitar a praia.
Boa sorte e bons trades.
DOC
(Agosto 2019)