Autores: Fabio Dalboni, Marcio Monteiro (revisão: Doc)
Liquidez é uma das principais características que um investidor deve examinar quando pensa em qual investimento deve alocar seu capital. Quando se fala em opções, então, isso é quase uma necessidade vital: opções que não tem liquidez não devem nem fazer parte do seu arsenal de trades. O mercado americano é conhecido pela excelente liquidez que proporciona a muitos produtos no mundo das opções, mas no Brasil esse assunto é sempre lembrado quando se quer usar estrartégias mais avançadas de opções.
A grande dificuldade de adentrar o fantástico mundo das opções - especialmente no Brasil - está na falta de liquidez na maioria dos ativos. Isso vem mudando – pra melhor – mas ainda assim esse é um problema importante para quem lida com opções na BOVESPA. Pra se ter uma ideia, o volume de negócios diários em opções de alguns ativos da bolsa americana supera o volume trimestral do ativo mais líquido da bolsa brasileira. Isso mesmo: 1 dia de opções de um único ativo no mercado dos EUA, como SPY por exemplo, equivale a mais de 3 meses de volume de negócios da opção mais liquida no Brasil.
Essa disparidade no volume dos negócios entre os dois mercados já começa na imensa diferença entre investidores pessoa física de cada país. Enquanto o número de pessoas físicas com conta aberta na BOVESPA, em setembro de 2020, está na casa dos 3 milhões - representando cerca de 1,4% da população do Brasil – nos Estados Unidos 54% das famílias investem na Bolsa de valores, quer seja individualmente ou por meio de fundos de investimento e contas de aposentadoria.
Nas bolsas americanas, existe um volume total diário de aproximadamente 30 milhões de opções e que podem ser classificadas em 15 setores, sendo cerca de 40% PUTs e 60% CALLs, como podemos verificar abaixo:
Fonte: https://marketchameleon.com/Reports/optionVolumeReport (Extraídos em: 29/out/2020)
O gráfico histórico de contratos de opções liquidados no mercado americano mostra um crescimento exponencial nesse tipo de ativo desde o final da década de noventa, com um ápice em 2018, quando superou a marca impressionante de 5 bilhões em um ano. No ano passado, esse total de contratos liquidados chegou a quase 5 bilhões.
Fonte: https://www.optionseducation.org
Já no Brasil, até poucos anos atrás o investidor até conseguia entrar na operação, mas no mês seguinte era comum não ter liquidez para sair dela, e pior: muitas vezes nem strikes para vencimentos seguintes poderiam ser encontrados, para fazer as rolagens. Durante um bom tempo a segurança em operar opções no mercado brasileiro restringia-se basicamente a ficar com contratos em VALE e PETROBRAS. Porém isso vem mudando, e gradualmente está havendo um aumento de liquidez em outras opções de outros ativos, além destes citados anteriormente.
As opções preferenciais da PETROBRAS continuam sendo - de longe – as mais liquidas e que apresentam a maior quantidade de negócios realizados na BOVESPA, seguidas pelas opções na VALE. Entretanto, no ano de 2020, a VALE perdeu por alguns meses o segundo posto de ativo com maior quantidade de negócios mensal em opções.
A partir dessa observação ficamos interessados em avaliar um pouco mais isso. Iniciamos um estudo em abril de 2020 através de um acompanhamento mais efetivo dos 25 ativos mais negociados mensalmente. Uma constatação desta pesquisa foi que mesmo que haja um grande salto no número de negócios de opções em um mês, de uma determinada empresa (ou índice), isso não lhe dá automaticamente a garantia de liquidez para montar e desmontar uma estratégia estruturada.
Entende-se por estratégia estruturada aquela que utiliza mais de uma opção combinada, como os Iron Condor, Broken Wing Butterfly, Ratio Spread e Calendários, entre outras. Nesse sentido, vale a ressalva: não é porque você conseguiu entrar numa operação estruturada que apresentou alto volume de negócios no mês que você conseguirá sair dela. Precisa haver liquidez no período de desmonte da operação! E isso nem sempre acontece.
A partir dessa constatação fizemos um levantamento objetivo das opções mais líquidas do BOVESPA com intuito de operar, sem receio, estruturas com mais de 2 pontas em ativos além de PETROBRAS e VALE.
Para evitar distorções de ativos com número alto de negócios em um único mês, montamos uma base de liquidez considerando o volume TRIMESTRAL onde são listados os ativos por ordem descrescente de volume negociado. A partir dessa base, observamos que os ativos com volume acima de 100 mil negócios apresentaram uma segurança razoável para operar estratégias com mais de 2 pontas.
Abaixo estão apresentadas as tabelas que compõem o referido estudo:
Fonte: https://opcoes.net.br/estudos/liquidez/opcoes
De abril a setembro de 2020, observamos um nítido aumento do volume negociado em opções, fruto do fluxo de Maket Markers e de pessoas físicas entrantes nestes mercado. Acreditamos que existe a possibilidade de no próximo levantamento mais dois novos ativos ingressarem no seleto grupo com mais de 100 mil negociações (na base trimestral).
Nota-se, como destacado, que os 15 ativos mais líquidos desse grupo estão permitindo operações estruturadas, com uma boa diversificação em estratégias utilizando opções, Isso também pode ser interessante, por consequência, para estabelecer proteções no seu portfólio, como hedge com opções no BOVA11 por exemplo (hedge mais global) ou compra de puts em PETR4 e VALE3 (para um hedge mais específico). Em outros artigos falaremos mais sobre isso.
Vale ressaltar que, apesar de tratar-se apenas de um estudo simples, a idéia é mostrar ao investidor da BOVESPA que este tipo de trade com opções está começando a melhorar no Brasil. Para quem quer diversificar suas estratégias em diferentes ativos e usar o universo das opções ainda temos muito a conquistar, e mais pessoas devem entrar nesse mercado para proporcionar a liquidez necessária para que se possa negociar com mais segurança.
Muitos avanços nos últimos anos colaboraram com o maior fluxo de investidores para esse mercado de opções. Com a digitalização das contas bancárias e a automação do sistema financeiro, há uma grande oportunidade do investidor globalizar o seu portifólio e operar além das ações do BOVESPA, em mercados mais maduros (em termos de liquidez e diversificação) como a bolsa americana.
Operar nos dois mercados não é um sonho hoje em dia, é uma realidade que está bem perto de você. Basta a vontade de você abrir uma conta nos EUA e conhecer esse mercado.
Enquanto isso, se você quiser somente continuar operando opções no mercado brasileiro, saiba que isso é muito melhor hoje do que era há 15 anos atrás, quando praticamente só tinhamos call e algumas puts em PETR4 e VALE3.
Aproveite para estudar, estruturar sua mecânica de trades e observar os seus resultados. Da nossa parte, continuaremos com os estudos e publicaremos os resultados por aqui de tempos em tempos, no sentido de ajudar você a entender esse complexo universo das opções.